Além de causar microcefalia, o vírus zika também pode provocar a síndrome de Guillain-Barré, informou recentemente o Ministério da Saúde. Assim como a dengue e a febre chikungunya, o zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que ao picar uma pessoa infectada armazena o vírus e transmite a outra pessoa ao picá-la também. Portanto, a prevenção exige cuidados individuais e coletivos.
A confirmação de que o vírus zika é o principal responsável pelo surto de microcefalia em bebês se deu após análise realizada pelo Instituto Evandro Chagas. Esse órgão do Ministério da Saúde, em Belém (PA), identificou a presença do zika em amostras de sangue e tecidos de uma bebê nascida no Ceará com microcefalia e que veio a óbito.
O governo informa que se trata de uma situação inédita na pesquisa científica mundial e que as investigações sobre a doença irão continuar. A Pasta deseja esclarecer outras questões sobre esse agente, como sua atuação no organismo humano, a infecção do feto e o período de maior vulnerabilidade para a gestante. Em análise inicial, o risco está associado aos primeiros três meses de gravidez, que é quando o cérebro do bebê está sendo formado.
“A relação do zika vírus com a microcefalia já estava sob suspeita há algum tempo, pois sabíamos que outros vírus semelhantes, como os que causam a febre amarela, a febre do Nilo Ocidental e a própria dengue se mostraram em outros momentos causadores de problemas neurológicos”, comenta o dr. Esper Kallas, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e infectologista no Hospital Sírio-Libanês.
A microcefalia é uma condição neurológica rara em que o bebê nasce com a circunferência da cabeça menor do que 33 cm — o normal é 34 cm. Esse tipo de malformação craniana influencia no desenvolvimento mental da criança, podendo provocar déficits cognitivos, visuais, auditivos e epilepsia. O grau de sequela, no entanto, varia de uma pessoa para outra. Ao longo da infância, o tamanho do cérebro pode crescer, mas ficará sempre menor do que a média.
Já a síndrome de Guillain-Barré foi epidemiologicamente associada ao zika após quatro pacientes infectados por esse vírus desenvolverem a doença. Essa síndrome ocorre, na maioria das vezes, algumas semanas após a infecção e pode afetar pessoas de qualquer idade, especialmente adultos mais velhos.
A síndrome de Guillain-Barré – nome dado em homenagem aos médicos franceses Georges Guillain e Jean Alexander Barré que ajudaram a descrever a doença em 1916 – afeta o sistema nervoso e pode provocar fraqueza muscular e paralisia, geralmente temporária, dos membros. A doença se inicia pelas pernas, podendo irradiar para o tronco, braços e face. Há risco de morte se a doença afetar os músculos respiratórios.
Alguns sintomas emergenciais da síndrome de Guillain-Barré são: interrupção ou dificuldade de respiração, dificuldade para engolir, babar, desmaios, vertigens ao se levantar e perda de movimentos. Diante desses sinais, um médico deve ser procurado com urgência.
Outras causas da microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré
Além do vírus zika, a microcefalia pode ser causada, entre outros problemas na gestação, por:
- Malformações do sistema nervoso central.
- Desnutrição grave.
- Exposição a drogas, álcool e produtos tóxicos.
- Rubéola.
- Toxoplasmose.
- Citomegalovírus.
- Doenças genéticas, como as síndromes de Down, de Cornelia de Lange e de Edwards.
“No caso do vírus zika, a hipótese é que ele atravessaria a barreira placentária e entraria no corpo da criança prejudicando a formação do cérebro”, explica o dr. Esper Kallas.
Esse tipo de malformação cerebral pode ser detectado por exames de ultrassonografia, que conseguem medir durante o período de gravidez o crânio do feto e perceber se está menor do que o esperado.
A microcefalia não tem como ser revertida com medicamentos ou tratamentos específicos. Os cuidados, geralmente, são com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, visando melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas afetadas. Experiências internacionais demonstram que quando esses cuidados ocorrem do 0 aos 3 anos de idade elevam as chances de sucesso.
Já a síndrome de Guillain-Barré pode ser desencadeada, entre outros problemas pelo:
- Campylobacter, um tipo de bactéria frequentemente encontrada em aves mal cozidas.
- Vírus Influenza.
- Vírus Epstein-Barr.
- HIV.
- Pneumonia.
- Cirurgia.
- Linfoma de Hodgkin.
O diagnóstico tem como base a avaliação clínica e neurológica do paciente e a análise laboratorial do líquido cefalorraquiano (LCR) que envolve o sistema nervoso central. Pode ser necessária também uma avaliação de eletroneuromiografia – procedimento que analisa a função do sistema nervoso periférico e muscular em um equipamento específico.
O tratamento da síndrome de Guillain-Barré é feito, geralmente, através de plasmaférese (técnica que permite filtrar o plasma do sangue do paciente) e com a administração intravenosa de imunoglobulina para impedir a ação dos anticorpos agressores.
Exercícios fisioterápicos devem ser introduzidos precocemente para manter a funcionalidade dos movimentos; e medicamentos imunosupressores podem ser úteis nos quadros crônicos da doença.